segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O criado-mudo

Ele está sempre presente nos momentos de maior intimidade das pessoas. Quando as portas dos quartos se fecham, ele ali permanece, aparentemente alheio aos acontecimentos, mas sempre presente. É ele quem ouve as súplicas mais angustiantes das madrugadas de sofrimento, quando o silêncio da noite faz de cada oração um grito agoniado.
Também está presente diante das discussões calorosas dos casais, em meio à violências domésticas e lágrimas de dor, bem como nas noites de amor intenso, seja com maridos e esposas ou amantes secretos.
Está ao lado dos enfermos, amparando seus alimentos, remédios, curativos, sua água.
Em seus compartimentos as pessoas guardam os mais variados objetos : luminárias, flores,livros de cabeceira, porta-retratos com lembranças de momentos e pessoas que talvez já tenham partido e jamais voltarão, revólver que o chefe da casa mantém em caso de algum assalto para defender sua família, bilhetes de amor, meias, roupas íntimas, bíblias, brinquedos, diários...
Ele assistes às mais horríveis cenas de crimes hediondos, onde as vítimas permanecem dormindo, indefesas, e também às cenas mais alegres de famílias que se reúnem em suas camas para comentarem seus dias ou brincarem de guerra de travesseiros.
Ele permanece lá, sempre presente, observando tudo e fazendo-se alheio.Tudo vê e nada fala.
Na verdade, o criado mudo é o exemplo da maior sabedoria , pois sempre pratica a linguagem dos sábios : sabe de tudo mas permanece mudo, calado.