sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pequenos tiranos


É impressionante como está se multiplicando de forma exponencial a tirania infantil. A cada dia observamos crianças que manipulam, desrespeitam e dominam seus pais nos mais variados ambientes.É Inaceitável ceder autonomia a quem ainda desconhece seu conceito. Fico imaginando em que mundo viveremos num breve futuro quando estes pequenos tiranos se transformarem numa versão adolescente, ou pior ainda, quando se tornarem adultos.
A conjugação entre pais omissos e crianças tiranas constituiu-se em um verdadeiro perigo. Perdeu-se a definição exata de papéis dentro das famílias, e da sociedade onde antes quem chefiava eram os pais com o auxílio das mães que participavam ativamente da educação, nasceu uma posteridade de pequenos monstros que mandam em seus pais e pensam mandar em todo mundo. Pais passivos e perdidos que por medo de traumatizarem seus pequenos rebentos, os armam de toda sorte de munição venenosa. A primeira e mais efetiva é a falta de limites. Quando os pais não delimitam até onde seus filhos podem ir, eles vão seguindo na direção e distância que acham melhor, expondo-os a perigos imediatos e a longo prazo formando pessoas de caráter duvidoso.
A outra perigosa munição é a falta de orientação. Quando não orientamos nossos filhos, eles procuram um outro referencial, mas certamente sem um critério para isto.
O que decorre desta situação é a absorção de valores totalmente errados aos quais se apegarão pelo restante dos seus dias. Outra perigosa e terrível munição é a falta de responsabilidade. Mesmo as crianças tem que aprender desde cedo que cada ação tem uma consequência e, até para que sua vida seja preservada deve arcar com as mesmas. Uma represália ou uma privação hoje, pode significar um erro a menos amanhã. Também os armamos com a falta de compromisso. É, criança também tem que desde cedo aprender a ter compromisso, zelar pela organização e a paz dentro de casa. Um ambiente tranquilo também pode deixar de existir com uma criança que não é comprometida com ninguém, e , se não assume seus pequenos deveres, como assumirá os grandes quando se tornar uma adulto. Boas maneiras também desarmam crianças de uma tirania insana. A gentileza e boa educação devem fazer parte de sua rotina, tornando-se natural para ele esta forma de comportamento. Enfim, uma educação com uma liberdade mal direcionada, onde a criança tem toda a amplidão para alimentar seu processo criativo, mas ao mesmo tempo, não os tem ligados intrinsecamente a valores que os nortearão é perniciosa e doente.
Não sou a favor também de pais autoritários que só exercem influência sobre seus filhos através de ordens e ameaças, acho mesmo que este modelo deve ser obsoleto. Mas, sejamos sensatos. Filhos entregues às suas próprias deduções não dá. Traumas , claramente devem ser evitados, mas não a ponto de corromper a formação do caráter e direção da personalidade das crianças. Aliás, é bom mesmo que estas crianças , apesar da má educação, ao menos não carreguem traumas, porque se sem eles já são pequenos tiranos imaginem se revoltarem-se por sentirem-se traumatizados, com certeza não achariam com facilidade o caminho da superação.

domingo, 23 de outubro de 2011

Felicidade

Todos procuram uma certa dona,
e nem imaginam onde está
procuram aqui, procuram acolá
alguns gastam toda a vida
sem jamais a encontrar
Pudera, homens tolos
imaginam: Onde estará?
Então procuram ansiosos
mas sempre fora do lugar
procuram-na nos palácios,
no luxo, no bem-estar,
mas acabam desgostosos,
todo trabalho perdido,
ali também não está
Aí se voltam às preces,
vazios em seu caminhar,
pura religiosidade,
para se refugiar
do sofrimento que arde
por não conseguirem achar.
Procuram-na na orgia,
no ócio, mas que pesar
Na vida também não encontram,
e em pleno desespero,
tentam na morte encontrar.
Alguns buscam na segurança,
outros no arriscar,
alguns em suas alianças
com algo que acabará
Buscam nas pedras, nas árvores,
no mar, que triste vagar
na terra não a encontram,
cansam de no céu procurar.
Mas estes, às vezes se esquecem
de perceber no olhar
às vezes tristes dos velhos,
ou das crianças o cantar.
Pisam flores no afã
de correr para encontrar
desprezam coisas pequenas,
pensando nas grandes achar.
Engano, pobres coitados,
cansam de tanto andar
muitos a morte alcançam
sem nunca imaginar
que é na simplicidade,
que esta tal dna felicidade
resolveu fazer seu morar


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Por um fio


Era noite, mais um daqueles plantões. Claro, quem estava como médico na emergência? O mais pé frio de todos. Ele era incrível, Dr. Eliel atraía as mais difíceis emergências. Era um tipo esguio, nordestino de estatura mediana, muito agitado, rápido e falante. Ao contrário de muitos de seus colegas, não saía da sala de emergência, sempre à espera do que iria aparecer. E sempre aparecia mesmo, às vezes três , quatro ambulâncias do resgate de uma só vez. Chegavam infartados, baleados, intoxicados, esfaqueados, convulsionados, atropelados... ele ali, sempre à postos. Quando saía para comer, voltava rapidinho sempre perguntando. E aí, tem algum paciente? Ele tinha sede em atendê-los. E era sempre um grande prazer trabalhar com ele, porque, apesar de atrair tantas emergências, ele era amigo da enfermagem. Não ficava só mandando não, colocava literalmente a mão na massa, ou melhor, no paciente. Prescrevia e ao mesmo tempo ajudava nos procedimentos. Enquanto passávamos uma sonda em um, ele já estava puncionando o acesso de outro. E sem reclamar. Quando agradecíamos a ajuda ele dizia, imagina, vou deixar o paciente esperar só olhar, não, além do mais eu gosto de fazer procedimento, o contato com o paciente me proporciona prazer. O que vale é salvar a vida dele. Quando o paciente saía da emergência sempre ia visitá-lo na enfermaria ou na semi-intensiva, como vi várias vezes, e dizia : te puxei pelo pé, graças a Deus você está aqui e descrevia para ele toda a história emocionante de quando sua vida estava por um fio.
Mas nesta noite, havia duas amigas escaladas na emergência, uma delas havia ido jantar, logo no início do plantão. Ela pensou : plantão do Dr. Eliel tranquilo , vou comer logo antes que o bicho pegue. Ela era uma das mais competentes profissionais que já conheci. Ensinou-me tudo numa emergência. Era precavida e esperta, deixava tudo preparado, tudo revisado, tudo a mão para qualquer emergência ou intercorrência. Mas nesse dia...enquanto jantava chegou um paciente, parado. Corremos na emergência para ajudar. Dr Eliel, como sempre muito rápido, sempre a postos o atendeu imediatamente. Só que quando foi dar um suporte ventilatório o ambú não funcionou, pediu outro para a outra colega que estava lá, também não funcionou, pediu para que ela buscasse rapidamente em outro setor. Ela foi, muito calmamente. Então ele irritou-se profundamente. Sempre amigo da enfermagem que era, nunca o vi tão bravo. Ela voltou . Já havíamos preparado o material para a entubaçã0...mas...o laringo não tinha sido testado. E quando ele ia introduzi-lo pela boca do paciente, a luz não acendeu. A pilha havia acabado. Pediu novamente para a funcionária buscar uma pilha ou outro laringoscópio, ela foi, muito calmamente. Então ele explodiu : _Quer parar de desfilar por favor, corra! Ela, então muito contrariada pelos seus esbravejamentos, entregou outro laringo. Ele suava, tinha um brilho no olhar que era um misto de esperança e desespero. Por fim terminou o procedimento. O paciente estava á salvo. Por um fio!
Ele então olhou para nós, muito cansado, parecia esgotado mesmo. Ajoelhou-se aos meus pés no meio da emergência e gritou : _ Esse aí, é seu pai, é sua mãe, é seu filho, é você! E saiu da emergência com muitas lágrimas nos olhos.
Nunca esqueci essa cena. Mas o que esta vida realmente me marcou foi o o que aconteceu meses após. Cheguei no plantão e todos com o semblante muito triste..._Poxa, o que aconteceu?, perguntei. Dr Eliel partiu foi a resposta. Estava passando férias no Nordeste, um acidente numa estrada, uma carreta tombou com a carga em cima dele. Pus a mão na boca, e chorei muito.
Dr Eliel que tantas vidas salvara, mesmo as que estavam por um fio, e que tinha imensa satisfação em dizer: _Que bom! Foi por um fio, mas você está aqui. Ele , ele mesmo, não teve tempo de ser socorrido. Que ironia! Talvez se tivesse passado ali alguns minutos antes ou depois, se tivesse ido passar férias em outro lugar, não sei. É tão pouco o que nos separa da morte. alguns minutos, um ambú que funcionou, uma pilha para um laringo, um acesso venoso que deu certo, uma bolsa de sangue, uma mudança de idéia...
Mesmo vendo, ao longo de todos esses anos, várias vidas serem salvas por questão de minutos, sei que pode não haver mais tempo, pois estamos todos por um fio.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Maturidade


Confesso que a maturidade me surpreendeu, mas não me assustou. Na verdade sempre a amei. Talvez pelo fato de sempre ter acreditado que na maturidade, tudo que era sonho nesse tempo seria real, que toda dúvida seria respondida, que toda escassez seria suprida, que toda dor seria curada, e que ao invés de grande problemas, teria somente soluções.
Sempre acreditei que na maturidade seria forte, decidida, andaria a passos firmes e jamais choraria por motivos tolos, afinal seria uma pessoa madura. Que seria acompanhada pelos melhores amigos, frequentaria os melhores lugares, vestiria as melhores roupas, leria os melhores livros...Viveria a calma e paz da bonança, após ter passado a grande tempestade: juventude.
Como a juventude me atormentava! Era difícil não ter sabedoria para fazer escolhas e a vida se apresentar sempre com tantas alternativas. Faltavam-me respostas, na maioria das vezes que precisavam ser imediatas, porém o tempo, este que então era um grande inimigo, não me dava tempo de refletir sobre o que fazer. Que ironia, tão jovem e já sem tempo. Tinha pressa. Corria, mas sem na verdade saber onde iria chegar. Não tinha destino certo, só sabia que precisava me libertar da juventude e de seus erros quase irremediáveis. Afinal, não fosse assim, como seria minha maturidade? E se não a pudesse alcançar?
Deixei de viver muitas coisas, porque achava que me preservar era melhor do que viver, e as vezes que arrisquei, ou foi por falta de alternativa, ou mesmo que por decisão sempre com muito receio , como aqueles pessoas que não têm coragem de mergulhar e então colocam os pés na água fria e retiram rapidamente. Sabia que o mergulho era necessário, mas não sabia como fazê-lo.
A maturidade me proporcionou conhecimento. O maior deles foi descobrir que nunca saberemos o suficiente para sermos maduros, que o perfeito equilíbrio se dá quando aprendemos a cuidar de nós mesmos e que aprendemos à medida em que vivemos.
Também aprendi que nossa energia é limitada demais para que a disperdicemos . Hoje quero gastá-la naquilo que de fato me favorece e naquilo que realmente me dá prazer, não momentâneo, claro, pois com a maturidade aprendi a não ser imediatista, aprendi a respeitar as etapas e viver cada processo saboreando sua evolução.
Aprendi a planejar , sem criar grandes perspectivas, não mais por medo das frustrações, pois na maturidade não nos frustramos mais, pois entendemos que é mais fácil aderir às adaptações. Agora planejo ciente de que existem coisas que fogem do nosso controle.
Com a maturidade aprendi a dizer sim para a vida, a abrigar no meu peito amor por pessoas imaturas e inconstantes, pois entendi que estão tentando achar seu caminho. O problemas é que ainda não perceberam que já o estão trilhando...viver é trilhar nosso caminho, seguir em frente libertando-se das amarguras da alma e dos grilhões que nos prendem os passos. Hoje sei o que é ser maduro: perdoar é maturidade, amar é maturidade, compreender é maturidade, esperar é maturidade, aceitar é maturidade.
Acho que estou no auge da vida e sei que daqui por diante ainda que envelheça, só declinarei em aspectos irrelevantes, pois em minha essência não tenho mais como deixar de evoluir e de crescer, pois hoje sou madura o suficiente para me sentir jovem.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pobres crianças ricas

















Entardecia,o céu de um vermelho cor de fogo parecia arder em nossos olhos, como era lindo o pôr-do-sol! A mãe à porta, cinta na mão ,chamava bem bem alto sem se importar se importunava a vizinhança, afinal todas as mães estavam gritando ao mesmo tempo: meninos passem pra dentro!
Era quase inevitável não procrastinarmos a também inevitável entrada. Como era bom brincar...
nossos tão humildes brinquedos feitos de varinha de arbustos, madeiras velhas sobre latas de leite, uma bola murcha para brincar de queima, um lencinho da vovó para brincar de cabra-cega, bolinhas de gude, capuxetas de jornal....tudo tão perfeitamente pobre e extremamente criativo. Às vezes uma corda velha encontrada no quintal, um pedaço de giz ou tijolo de barro, com o qual delineávamos geometricamente quadrados quase perfeitos que formavam uma amarelinha. Brincávamos de pega-pega, boca de forno, pula-mula, mãe da rua, de passa anel com aqueles aneizinhos que vinham de brinde nos chicletes...de restaurante era formidável, preparávamos comidinha de barro e de mato, afinal verdura no prato era imprescindível, e os bolos, bem batidinhos, dava até vontade de comer de tão apetitosos que se apresentavam.
E as cantigas de roda! Até hoje não sei quem inventou e como conseguiram transmitir todas elas ao pé-da-letra de geração em geração. Ai que medo que se percam!
Ah, a entrada, direto para o banho as pernas ardiam e coçavam de tanto que a tínhamos esbarrado no mato, e quando escapava um xixizinho, então... entramos enlameados, barrentos, cabelos esvoaçantes, totalmente em desalinho, roupas rasgadas, remendo na certa! As mamães, sempre muitos austeras, panelas a chiar no fogo, promessa de um jantar quentinho e gostoso. Nem sempre tinha carne não, mas o arroz e o feijão jamais faltava, às vezes uma polentinha com um franguinho cozido. Que delícia! Ou sopa de letrinhas. Papai chegando para jantar também. Que bom!
Pronto, roupa limpinha, cabelos penteados, cheiro de talco no ar...agora era hora de pegar a bruxinha de pano e brincar. Não tínhamos bonecos fabricados que falavam ou eram articulados...só nossas bonequinhas de pano, geralmente feitas de retalhos, mas tão aconchegantes. Não as trocaria por nenhum brinquedo eletrônico. Os meninos preferiam seus carrinhos, daqueles de plásticos comprados na feira, sem controle remoto, claro.
Éramos felizes, a nosso modo, pois éramos verdadeiramente crianças. Totalmente alheios aos tormentos da vida adulta, não sabíamos o que significava empreendedorismo e não éramos consumistas, pois para nós não importava qual marca tinha nossa roupa, apenas dormíamos sonhando em acordar no outro dia, brindar um lindo nascer do sol e recomeçar tudo de novo. Brincar, brincar e brincar.
Nem por isto deixamos de nos tornar adultos responsáveis e conscientes, pais e mães de família maduros.
Sinto por nossas crianças de hoje. Pobres crianças ricas, que ficam depositadas em escolas integrais, pois suas mães gastam o dia todo entre trabalho e trânsito e não tem mais tempo de chamá-las para dentro. A janta gostosa acabou, mas sempre tem um fast-food para fornecer um hambúrguer gostoso para complementar suas vidas sedentárias. Em casa, para se divertir não falta um computador ou um vídeo game com seus jogos violentos, tudo muito caro, pois hoje são todas muito ricas. Ganharam riquezas e junto com ela uma grande solidão, uma prisão constante, pois já não se pode mais brincar nas ruas como antes, sem preocuparem-se com a violência e o trânsito, pois as ruas que antes eram de barro, hoje são pavimentadas com sangue.
Pobres crianças ricas que desde cedo precisam de celulares para poderem se comunicar a qualquer instante com aqueles que antes tão próximos, hoje tão distantes : seus pais e familiares. Que tem que preocupar-se desde cedo com a competição tão acirrada do mercado e trocam a infância por valores tão corrompidos como a obrigação de conhecer os investimentos do mercado , saber todas as línguas quanto possível, conhecer informática e comunicação virtual, afim de garantir um amargo futuro onde descobre que a essência de suas virtudes se perderam , pois sua infância lhe fora roubada.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O criado-mudo

Ele está sempre presente nos momentos de maior intimidade das pessoas. Quando as portas dos quartos se fecham, ele ali permanece, aparentemente alheio aos acontecimentos, mas sempre presente. É ele quem ouve as súplicas mais angustiantes das madrugadas de sofrimento, quando o silêncio da noite faz de cada oração um grito agoniado.
Também está presente diante das discussões calorosas dos casais, em meio à violências domésticas e lágrimas de dor, bem como nas noites de amor intenso, seja com maridos e esposas ou amantes secretos.
Está ao lado dos enfermos, amparando seus alimentos, remédios, curativos, sua água.
Em seus compartimentos as pessoas guardam os mais variados objetos : luminárias, flores,livros de cabeceira, porta-retratos com lembranças de momentos e pessoas que talvez já tenham partido e jamais voltarão, revólver que o chefe da casa mantém em caso de algum assalto para defender sua família, bilhetes de amor, meias, roupas íntimas, bíblias, brinquedos, diários...
Ele assistes às mais horríveis cenas de crimes hediondos, onde as vítimas permanecem dormindo, indefesas, e também às cenas mais alegres de famílias que se reúnem em suas camas para comentarem seus dias ou brincarem de guerra de travesseiros.
Ele permanece lá, sempre presente, observando tudo e fazendo-se alheio.Tudo vê e nada fala.
Na verdade, o criado mudo é o exemplo da maior sabedoria , pois sempre pratica a linguagem dos sábios : sabe de tudo mas permanece mudo, calado.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sonho realizado

Desculpem tanto tempo sem postar,em breve estarei postando mais textos...agora sou uma das autoras do Pão Diário.Glória a Deus, o Deus que realiza sonhos!!!!!